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Author: HugoCrema


Primeira facada,

Deus, como ela ama isso, adora a minha precisão cirúrgica, os movimentos lânguidos, os pés rastejantes, a língua bipartida em veneno e blues, as mãos calejadas de tanta confusão de tanta solidão de tantas tantas e tantas investidas ela grita alto cai ao chão rola pelo chão a gaita sopra em algum andar superior ela rola pela escada abaixo sai engatinhando pela portaria cai de cara na rua cara numa poça de água mas que nojo não é mesmo guimbas de cigarro são seu novo enfeite de cabelo, ela quer me abandonar, e deveria eu ficar sozinho de novo, deveria? Não deveria

Segunda facada,

ela desafina minhas cordas, ela tira um melodia triste de mim, a melancolia de algum filme alemão antigo ela abre uma caixa de Pandora nova a cada movimento de perna e diabos como isso é triste e belo e como dói chorar por essas formas por essas curvas ela é linda mas ela me despreza, que coisa a dela, que coisa a minha, minhas cordas nunca vão tocar direito de novo, eu sou uma criatura sobrenatural, não estou existindo mais nesse plano, a prata me destruiu, mas aquela combinação velha de acordes não me deixa ir embora

Terceira facada,

ela abre as pernas, ela abriu as pernas, ela já gostou mais de fazer isso, eu já fiz isso melhor, eu era um grande amante mas agora envelheci tanto em tão pouco tempo que quando olho no espelho dá para ver algum escritor velho, tarado e alcoólatra baixou em mim feito macumba talvez nisso que dê fumar tantos charutos, quando fiz essa piada ela quis iniciar outra discussão

Quarta facada,

"Baby, fazem quarenta anos de lançamento do Let It Bleed hoje"
"Acho que estou bêbada, mas eu te amo, você sabe, eu ainda gosto de você"
"Não deixa seu namorado saber disso, mas puta que me pariu, Gimme Shelter é a melhor música do mundo"

E a quinta,

Você já ouviu falar sobre mim, todo mundo me segue, Mississipi, João Pessoa, Pequim, Buenos Aires, Ipanema, Champs-Elysées, todas elas, todas, gostam disso, amam isso, se deliciam com isso, com crânios esmagados, um festival deles, elas nunca estão tão bonitas quanto à noite, de vestidos vermelhos, dançando sob uma luz que nunca se apaga, deitando em meu colo, continua me amando, continua chifrando o namorado, continua partindo o meu coração, e lá vem a sexta, a sétima, oitava, grite em oitavas, rujo de forma dodecafônica, como a gente se ama, e como suas vísceras são tão belas caindo em meu corpo

Você já ouviu falar sobre mim, eu acho

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