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Author: HugoCrema



Sob uma cortina de água pode observar, quase que em câmera lenta, os crisântemos que caiam sobre a amada.
Era manhã chuvosa, mas tais águas não se comparam às lágrimas derramadas no solo arenoso. Um encontro místico das águas que criam a vida e destroem a alma. O doce e o salgado, o frio e o quente. Personagens antagônicos que se completam na mesma história.
Rumo a ela, as flores continuam a cair, semeando vida após a morte, e fazendo ir de encontro à água que cai o aroma adocicado e penetrante desta flor predestinada à angústia dos aflitos.
As faces ficam ruborizadas, contrastam com o azul dos olhos desta família, posta de pé frente ao abismo onde o contraste tem outros tons. As flores amarelas encontram o negro da morada eternal e repousam suavemente suas pétalas, alheias ao momento fúnebre.
Elas não têm culpa.
Vezes são atiradas com força, outras deitadas com delicadeza, mas sempre com o único propósito de declarar adeus para alguém que se foi e deixou saudades. Se pudesse choraria como todos. Desejaria um último abraço, diria uma última vez “eu te amo”.
Mas infelizmente não pode.
Agora seguem juntas uma trilha sem fim. Ambas nascidas do pó, ceifadas da terra, e agora voltam. Mãos dadas, caladas, frias. Os aromas se misturando, as mesmas umidades rumo à mesma podridão da terra, que a esta hora começa a cair sobre elas, pá à pá, pó a pó.
Está consumado.
Acabam as águas no céu e nas faces. Cessam os contrastes e sobram apenas o vermelho do solo, dos olhos, e o cheiro de um passado que não voltará.
Morrem os crisântemos.

2 comentários:


  1. Este comentário foi removido pelo autor.
  1. Porra, parabéns, meu querido Carriço! Não sabia que também escrevia a beleza da tristeza tão bem. Porque crisântemos e cadáver, tem toda razão, é realmente redundante.

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