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Author: HugoCrema


E nossos encontros passaram a ser fictícios.

Não no começo. No começo, na verdade, nós nem nos encontrávamos. Trocávamos mensagens que eram exercícios sintéticos e mal intencionados. Remetiam na cabeça dela, mesmo sendo comprometida, a algo romântico; mas na minha cabeça, a libertinagem dava gás aos pensamentos.

Eram mensagens curtas, longas e às vezes desconexas. Eu alimentando um desejo inviável e ela alimentando uma paixão imatura. Eu querendo algo profundo e ela buscando superficialidade. Eu torcendo por um sim e ela contente com qualquer talvez.

A comunicação foi aumentando assim como minha admiração. Passava horas pra redigir uma linha que expressasse tudo o que eu sentia. Às vezes dias pra escrever uma mensagem que deveria dizer muito mais do que minha capacidade intelectual permitia.

Aos poucos nossas palavras começaram a parecer mais íntimas. Nossos destinos tendiam a se cruzar em breve. E eu não estava errado. Foi o que aconteceu em pouco tempo. Não sei com quem começou e nem como, mas as rotinas sincronizaram, e dia e a hora foram marcados.

Lá estava. Eu, claro. Ela deveria chegar em breve. Deveria, pelo menos era esse o combinado. Atraso considerado, afinal, era o primeiro encontro, ela tinha o direito, isso não seria nenhum problema pra mim. Resisti paciente.

Ela não foi.

Fisicamente. Mas estava lá no meu coração. Cheguei a fantasiar o momento do encontro, o momento em que meus olhos veriam aqueles lábios dizendo “oi” com toda a delicadeza que a fantasia me permitia imaginar. Mas ela não foi.

Nem por isso deixei de pensar na sua presença. Nem por isso deixei de imaginar seu corpo, seu sorriso e seus olhos. Ela também não mais escreveu.

Nem por isso deixei de escrever. Nem por isso deixei de imaginar as respostas, as gírias, os jeitos e as manias. Ela nunca mais apareceu.

Nem por isso deixei de acreditar num novo encontro. Nem por isso deixei de marcar novos encontros. Continuei a aparecer, todos os dias, nas mesmas horas e sempre a via chegar. Ela nunca soube, mas foi assim que nossos encontros passaram a ser fictícios.

2 comentários:


  1. Uou, isso é autobiográfico?
    Está muito bom, com aquela beleza um tiquinho melancólica

  1. Em parte sim.

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